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Donkey Kong Country 2: A Genialidade de David Wise

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Donkey kong

Primeiramente é de um consenso geral no mundo dos games que os três jogos da franquia “Donkey Kong Country”, lançados para o Super Nintendo em 1994, 1995 e 1996, são clássicos absolutos. A trilogia marcou a infância de muita gente, influenciou diversos jogos no decorrer dos anos e é sempre citada quando se fala nos melhores jogos do console, ou até mesmo, nos melhores de todos os tempos. Parte disso se deve a sua inovação gráfica, que na época era algo maravilhoso.

Também devemos citar a sua campanha publicitária, que foi pesada para os padrões antigos e não podemos esquecer que os jogos foram desenvolvidos pela Rare, que ao longo dos anos fez diversos clássicos para os consoles da Nintendo até ser comprada pela Microsoft. Mas existe um elemento da franquia, que eu diria que teve o mesmo peso, ou mais, que todos esses fatores para o sucesso dos games; a sua trilha sonora.

 

UM POUCO DE SORTE

David Wise começou o seu trabalho com os videogames por volta de 1987, quando entrou para a Rare. A história chega a ser até engraçada, Tim e Chris Stemper, fundadores da Rare, estavam testando sintetizadores e outros equipamentos em uma loja de instrumentos musicais. Wise trabalhava na loja e durante esses testes ele acabou impressionando os irmãos Stemper, que logo o contrataram para compor a música de seus jogos.

 

…TRABALHO DURO E TALENTO…

Por muitos anos ele foi o único compositor da empresa, trabalhando de forma pesada em mais de quarenta títulos, até, é claro, chegar o seu momento de “virada de chave”, que foi o Donkey Kong Country. A crítica aclamou tanto Wise pela trilha sonora de Donkey Kong Country que ele teve que parar de trabalhar em diversos jogos e focar só na franquia do nosso querido DK. Eram tantas apresentações, eventos e atividades extras, resultantes de seu excepcional trabalho, que não sobrava tempo para Wise trabalhar em qualquer outro jogo que não fosse a própria sequência, DKC2: Diddy’s Kong Quest.

 

RESULTADOS MEMORÁVEIS

Naquela época, Wise não fazia ideia, mas aquela era uma decisão muito acertada. Embora ele tenha se eternizado ao criar clássicos que ecoam até hoje, como DK Island Swing e Aquatic Ambiance.

Ele até mesmo já tinha apresentado uma das suas principais características que é transformar sons ambientes em elementos musicais. Por exemplo, em Cave Dweller Concert, Wise utiliza as gotas pingando de estalactites no fundo de uma caverna, e mistura esse som na música de uma forma brilhante, deixando o game mais imersivo. E nós sabemos como a imersão é importante para um jogo. Mesmo ele tendo feito tudo isso em Donkey Kong Country, foi no segundo título da franquia que David Wise brilhou realmente.

Na trilha sonora de DKC2, Wise literalmente pega todos os elementos que fazem a trilha do primeiro jogo ser épica, e os potencializa ao máximo. Algumas músicas conseguem te transportar para lugares diferentes sem a necessidade da imagem do jogo.

Quando combinamos a música com outros elementos do game, a imersão se intensifica, e isso em 1995 foi revolucionário. A qualidade do áudio impressiona, não parece que foi desenvolvido para um console 16-Bit, o hardware do SNES foi explorado ao extremo e tudo isso valeu a pena. Eu separei cinco músicas que gostaria de usar como exemplo para demonstrar toda a genialidade de Wise.

 

A Primeira é Klomp’s Romp

Se você fechar os olhos ao ouvir Klomp’s Romp, vai se sentir dentro de uma embarcação navegando pelo oceano. A forma que Wise representa o barulho característico do mar, com o ranger de madeira de uma embarcação antiga é fantástico. Mas ao mesmo tempo uma melodia feliz soa no fundo, afinal de contas, nós estávamos em uma embarcação, mas estávamos controlando macacos que pulavam na cabeça de crocodilos e atiravam caixas.

 

Já em Jib Jig…

Nós ouvimos primeiro o barulho da chuva, seguido por uma ventania forte. Também podemos ouvir em poucos momentos o barulho de pegadas na lama. A chuva varia de intensidade, some, volta. A ventania diminui até virar um leve assobiar do vento e em alguns momentos desaparece também. Quem transformaria a simulação do barulho da chuva em elemento musical para um jogo em 1995 de uma forma tão brilhante?

 

Bayou Boogie

Grilos e outros insetos fazendo barulhos. O coaxar de sapos na beira de uma lagoa. Uma estranha sensação de tensão crescente, como se estivéssemos em uma densa floresta e fossemos entrando mais no desconhecido daquela mata. Tudo ao mesmo tempo em que se ouve uma melodia maravilhosa, que nos incentiva a continuar explorando. Essas são as sensações que Bayou Boogie me passa.

 

Forest Interlude

Esse é um caso interessante. A música em si nos faz relaxar, como se estivéssemos em um lugar calmo e seguro. No jogo a música foi usada em fases que seriam uma espécie de floresta com fantasmas, mas é compreensível, não dá pra ter uma fase segura e tranquila no jogo, nós temos que ter desafios.

Wise viveu um bom tempo em uma fazenda, e ele já disse em diversas entrevistas que o clima calmo do interior o influenciou muito em suas criações. Forest Interlude eu acredito ser um desses casos, e ela é parecida com a próxima  música que eu vou citar em diversos aspectos, inclusive na sua carga psicodélica.

 

Stickerbrush Symphony

Essa é para muitos a mais enigmática e marcante música do game, pensada para ser a canção das fases aquáticas, mas que no fim teve outro uso. A combinação de todos os efeitos que soam ao mesmo tempo é algo fora do comum, chega a ser complicado até de descrever. O que eu posso afirmar é que a combinação de todos esses efeitos constrói algo único e profundamente psicodélico.

A sensação primordial que a Stickerbrush Symphony causa é a de paz. Eu conheço pessoas que a escutam quando precisam se acalmar, sem exageros. O que chega a ser um contraste para com a sua fase, pois ela é usada em uma única fase do jogo, e quase ficou de fora do mesmo. A fase em questão é a Bramble Blast, uma das mais tensas e difíceis do game.

 

DEPOIS DE SE ETERNIZAR, HIATO…

Seria muito maçante eu descrever as sensações que todas as músicas me proporcionam, então escolhi as que mais me marcaram. Porém toda a trilha sonora do jogo é brilhante. Cada música tem o seu valor, o seu sentimento e a sua contribuição para com o game, como também para com a carreira de Wise. Após trabalhar no título, Wise teve apenas uma pequena contribuição na trilha sonora de Donkey Kong Country 3: Dixie Kong’s Double Trouble! Deixando a maior parte do trabalho para Eveline Fischer, compositora que já o havia auxiliado em DKC.

Por fim o brilhante compositor trabalhou na trilha de Diddy Kong Racing, lançado para o Nintendo 64 em 1997, e voltou a fazer uma trilha sonora completamente do zero para o DKC3 que foi portado para GBA. Um fato curioso é que muitos consideram a trilha de David Wise superior a de Eveline Fischer, eu já acredito que ambas tenham seu charme.

Depois meio que ele entrou em um hiato dos jogos do nosso querido macaco engravatado, algo que eu acredito ser um reflexo de tudo o que aconteceu entre a Rare, Nintendo e Microsoft, uma vez que a própria franquia “country” deixou de ter jogos lançados. Vale ressaltar que Wise continuou trabalhando em outros jogos, mas não com a mesma frequência que fazia antes.

 

O RETORNO E O FUTURO EM DONKEY KONG

 

Por fim, Wise não teve participação nenhuma em Donkey Kong Country: Returns (Nintendo Wii 2010 e 3DS 2013). Voltando a trabalhar na franquia somente em Donkey Kong Country: Tropical Freeze (Wii U 2014 e Switch 2018), no qual fez, mais uma vez, um trabalhado maravilhoso. Mas isso é assunto para outra matéria.

Em conclusão, As músicas de David Wise reverberam até hoje, mais de vinte anos após o lançamento dos jogos. É claro que ele não foi o primeiro compositor a mostrar a importância que a música tem para um jogo. Porém ele definitivamente foi um dos primeiros que fez isso com maestria.

A música é um dos principais elementos de um game, podendo arruinar um bom jogo ou transformar um jogo mediano em algo épico. Eu espero que esse gênio continue trabalhando com games. Quem sabe no futuro não veremos um Donkey Kong Country: 6 com David Wise como compositor, e consequentemente o surgimento de mais clássicos modernos.

 

Se quiser saber mais sobre a franquia Donkey Kong Country, escute nosso podcast: Playzuandocast 26 – A trilogia Donkey Kong Country

 Essa matéria de minha autoria foi originalmente publicada no nintendoblast.com.br

 

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